terça-feira, 14 de agosto de 2012

CRISTINA E CLAUDINHA



Cristina era uma menininha acanhada e séria e acabara de fazer três aninhos. Ela não tinha um pai e seu grande sonho era que ele chegasse a qualquer dia pra ser como as outras crianças de sua idade. 

Sair com ele pra passear segurando em sua mão e se divertir muito. Ela imaginava os dois brincando de pique esconde, correndo um atrás do outro e se escondendo pra ser encontrado, ir à praça, ao parque, se divertir a doidado.

Comecei a namorar sua mãe e a primeira vez que a vi não me deu a mínima, mas devido aquele namoro começou também um relacionamento entre nós.
Confesso, não sabia no que daria aquele namoro, até onde iria, e na verdade esteve por algumas vezes para se acabar, certo é que cheguei a terminar, mas depois voltamos.

Não quero nem imaginar o que teria sido do meu relacionamento com a garotinha. É certo que terminando o namoro com sua mãe, o afastamento dela seria normal. 

Mas o bom de tudo é que essa história não acabou assim. O namoro continuou e passei a ir à casa da namorada e era só eu chegar para que ela, a menininha, corresse para o meu colo, agora, sempre sorrindo, e não me largasse mais. Revirava meus bolsos em busca de balinhas e chocolate, que então passei a carregá-los delas, para que sua busca não fosse frustrada.

Um dia, ainda no começo, sabia lá eu se aquele relacionamento teria futuro, estávamos na casa de minha sogra para um almoço em família, e o priminho da garotinha disse a ela apontando para seu pai, “eu tenho pai e você não tem”, imediatamente ela, sem precisar pensar duas vezes, pega na minha mão e diz: “aqui meu pai”. Desse dia em diante, eu não era mais apenas José para ela, agora eu era “pai” ou “papai”. Lá se vão vinte anos desse fato, e não consigo ficar sem me emocionar quando me lembro disso.

Essa decisão de Cristina  foi tão forte que influenciou sua irmãzinha de um ano a tal ponto que a primeira palavra dita por ela foi “papai”, pena que eu não estava perto para ouvir.
Claudinha, sua irmã por sinal também se apaixonou por mim, ainda não andava, mas quando ouvia minha voz vinha engatinhando até chegar ao meu colo.

Nossa ligação foi muito grande, quando fui trabalhar em outra cidade e fiquei quarenta dias longe, e ela sentindo minha falta perguntou sua mãe quando eu viria, sua mãe disse em julho e a partir daí, todos os dias ela perguntava: “mãe, hoje é julho?”

Vivia dizendo que queria ir embora comigo para Curitiba (onde eu estava morando naquela época), se deixasse, acho que iria.

Quando me casei e fomos embora, grande foi sua alegria ao chegar à capital paranaense.
Já casados há algum tempo, a garota costumava dizer para sua mãe que se nós nos separássemos ela ficaria comigo.

Claudinha era muito sapeca, certa vez deitada no sofá brincava com um prendedor de cabelos, o objeto era pequeno e ela o enfiou na boca e ele foi parar em sua garganta, quando sua mãe e a babá viram, ela já estava quase sem ar. Pegaram-na rapidamente pra correr para o pronto socorro, quando eu por instinto mesmo, enfiei o dedo em sua boca e tirei aquele negócio que estava quase descendo goela abaixo. Ufa!

Outra vez ela mesma, Claudinha foi para o banho, se trancou no banheiro abriu o chuveiro e estava lá por horas quando sua mãe desconfiada pela demora invadiu o recinto abrindo a porta com uma chave reserva e lá estava a menina sequinha dormindo deitada num canto. Aquele dia a bronca foi certa e por um longo tempo não se lavou sozinha.

Certa ocasião as garotinhas estavam indo ao supermercado, sua mãe havia as enviado com a ordem de voltar logo, pois as compras eram para preparar o almoço e elas tinham que ir para a escola.

Cristina encontrou pelo chão um pedaço de uma galha de árvore pequena e saiu carregando pelo caminho, em determinado momento ela resolve jogar para cima e pegar de novo ou jogar para Claudinha e receber de volta. A rua não estava muito movimentada, mas passava naquele instante uma camionete e Cristina errou a mão ao jogar a madeira, que foi parar no vidro do veículo. 

Que confusão, o carro parou, o dono desceu e estava bravo apesar de não ter quebrado nada. Quando as viu, percebeu que as conhecia, pois era meu amigo e prometeu apenas me contar o acontecido depois, mas nunca fiquei sabendo por ele. Elas é que muito tempo depois deixaram vazar tal fato.

Meu amigo na verdade as levou ao supermercado e ainda deixou-as em casa, que sorte das pequenas.

Elas hoje estão grandes, adultas e levam sua própria vida, mas tenho muita saudade daqueles tempos em que elas eram apenas duas garotinhas. História pra contar é que não falta, mas isso fica pra uma próxima oportunidade.

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