quinta-feira, 7 de junho de 2012

EU MORRI


Estava vivendo o melhor momento de minha vida, depois de anos de luta e dificuldades, agora posso dizer que estava feliz. Profissionalmente bem, sócio de uma empresa de equipamentos de informática que acabara de ampliar os negócios rompendo fronteiras o que significava mais estabilidade. 

Morava em um apartamento no centro da cidade com vista para o mar, um bom carro e mais alguns imóveis. Depois de um longo e tenebroso inverno na vida sentimental, agora estava em um relacionamento sério com uma linda mulher, a qual esperei por anos. Ela vivia me pedindo pra esperar, primeiro porque estava estudando, depois foi morar no exterior por conta de um estágio no trabalho e por aí, (nunca desisti dela) até que um dia de volta ao Brasil me procurou e disse que queria se casar. Estávamos noivos. 

Tinha realizado um sonho de ajudar meus pais que tanto lutaram por mim e os presenteado com um pequeno sítio só faltava agora dar-lhes um neto que tanto queriam, e como eu era filho único, mas o processo estava adiantado, iria me casar no final do ano.

Naquela noite, estava tão feliz, tinha deixado a noiva em casa e ao chegar ao meu “AP”, fiquei um tempo observando a noite pela janela, a lua cheia tava linda e até parece que queria me dizer alguma coisa. Passou pela mente uma retrospectiva dos últimos anos, e eu ri sozinho de situações que vivi. Minha alegria era tanta pelo momento que nem dava pra esconder caso desejasse. O porteiro do prédio até disse que eu tava parecendo um bobo de tanta alegria, é que eu não conseguia parar de rir, a alegria tava estampada na minha cara.

Fui dormir lá pelas três da madrugada por que a euforia não me deixava pegar no sono. Curioso é que ao acordar no dia seguinte, me vi andando pelas ruas da cidade, um dia lindo e muito movimentado na cidade, parecia uma segundona brava. Não entendi porque estava a pé num dia daqueles.
Quando chegava próximo de minha empresa uma coisa me intrigava, havia andado tanto, passado por tanta gente e ninguém havia falado comigo nem mesmo o jornaleiro da banca da esquina que sempre puxava assunto. Será que ele estava lá, nem me lembro.

Na empresa passei pela portaria e fui direto a minha sala e da mesma forma parece que ninguém me viu e olha que desta vez tentei falar com alguns funcionários, mas percebi que somente eu os notava. Comecei a achar tudo estranho e o mais lógico é que estava sonhando. Só podia ser um sonho, tava de fato muito esquisito que passei a torcer pra acordar logo. 

Resolvi então não ficar na firma e voltei pra rua e agora, o tempo estranhamente havia passado e me pareceu ser um fim de tarde. Caminhei novamente solitário, atravessei ruas fora da faixa, e os carros nem buzinavam, tentei esbarrar nas pessoas na calçada, mas nada acontecia era como se eu não estivesse ali. Nessa caminhada acabei por chegar a uma praça que nunca havia visto antes, a cidade era outra com certeza, no interior. 

A sensação de que tudo não passava de um sonho aumentou e a vontade de acordar era enorme. A alegria da noite anterior havia se tornado em confusão. Cheguei a pensar na possibilidade de estar louco, mas logo descartei, eu estava invisível, não louco. Era um sonho, e eu iria acordar a qualquer momento. Mas uma coisa era certa, nunca tinha tido um sonho tão real assim. Real?

Pensei em ligar para minha querida, pois a cerimônia de noivado tinha sido na noite anterior e não devia apenas ligar, mas mandar flores, muitas flores pra que ela percebesse que eu estava muito feliz com tudo. Procurei pelo celular nos bolsos e nada.
Triste sentei-me no banco da praça a olhar para o tempo, tarde de céu azul e poucas nuvens, um vento leve soprava as folhas secas que eram varridas pelo zelador. Crianças brincavam a correr entre os canteiros da praça próximo a fonte luminosa. Jovens uniformizados e mochila nas costas voltavam da escola.

Percebi que o tempo havia passado, pois a noite veio e com ela um pipoqueiro parou o seu carrinho ali perto e eu podia ouvir o barulho do milho estourando, mas não conseguia sentir o cheiro da pipoca. Do outro lado da rua em frente a um bar um sujeito assava churrasquinho e muita gente chegava pra comer e beber. Tava movimentada a praça, acho que era sexta feira. 

Estava cansado de observar o tempo, as pessoas, o movimento e nada de acordar, seria mesmo um sonho? Apesar de o tempo estar estranho e mudar de segunda pra sexta tão rapidamente parecia um longo período pra ser um sonho, apesar da confusão de situações ocorridas até ali. 



 
Esforçava-me pra entender e buscava forças nos bons momentos de minha vida nos dias anteriores, a noite de noivado, quando senti um toque nos meus ombros, era o primeiro daquele dia maluco, olhei e percebi um homem alto, forte, iluminado, todo de branco em pé do meu lado com a mão em meu ombro. Ele transmitia paz, olhou-me e com uma voz forte, mas suave me disse: “Você morreu.” Então apenas repeti, “Eu morri?”

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