segunda-feira, 7 de março de 2011

O CAMINHO DAS PEDRAS




Ao ler o título talvez você esteja pensando que caminho seja esse. Poderia ser as ruas do centro histórico da Cidade de Goiás ou então a descoberta de um veio de diamantes, pedras preciosas, mas não é nada disso.

Há mais ou menos um ano e meio, tenho feito sessões de flexível para quebrar pedras nos rins. Nesse período foram quatro cirurgias. Tudo começou no final do ano de 2008 quando num final de semana sofri com cólicas renais e não foi nada bom. Somente quem já sofreu pelo menos uma pode entender o que passamos. 


A dor não se concentra apenas nos rins, mas interfere em todo o organismo. Minha mãe dizia que era bem semelhante às dores do parto. Às vezes penso que as pessoas não entendem bem o que é sofrer dessas cólicas renais. A primeira coisa que te dizem é: “Você tem que beber água”. Como se a gente não soubesse ou não o fizesse nunca. Não tente explicar pra alguém que sofre dos rins que ele precisa beber água, isso é natural e os médicos já dizem o tempo todo. Bom, voltando às cólicas, passei de sexta a domingo sofrendo muita dor, até que urinei uma pedrinha. 

Geralmente quando se tem cólicas nos rins, é porque algum cálculo quer sair. E foi o que me aconteceu naquela ocasião. Mas com o passar dos dias percebi que continuava a urinar fibrina (uma substância gelatinosa) e sentir incômodo nos rins e foi então que procurei um médico, fiz exames e ficou constatado que tinha pedras grandes nos dois rins, melhor, pedras não, verdadeiros tijolos. 

O urologista disse que a do rim esquerdo era do tamanho de uma azeitona e do direito semelhante a um ovo de codorna, pra mim mais parecida com uma castanha de amendoim de uns três centímetros. Descoberta a pedreira era necessário começar a detoná-la e segundo o médico, da forma menos agressiva ao organismo. Constatado através de exames que eu estava apto para as cirurgias era hora de começar. Seriam as flexíveis. 

Até agora foram quatro. Em 2009 fiz duas pra quebrar a pedra do rim esquerdo que estava em situação mais ofensiva como um centroavante na boca do gol. Estava causando inclusive uma hidronefrose (Distensão da pelve e cálices renais pela urina, em conseqüência da obstrução ureteral, observando-se, também, atrofia do parênquima renal; uronefrose). Em 2010 foram mais duas no rim direito. Pedra dura, será preciso pelo menos mais uma pra destruí-la totalmente. Começava aí o caminho das pedras. Até então nesses meus quarenta e sete anos, havia ficado internado apenas por duas vezes. 

Aos 14 anos por cinco dias por causa de uma infecção urinária e dez anos depois, passei uma noite no hospital por causa de uma cólica renal, imagine. Se você tem vergonha de algumas coisas, quando vai para um hospital talvez precise deixá-la em casa. Internei-me para a primeira cirurgia e apenas com uma camisola dessas de hospital foi levado ao centro cirúrgico onde o anestesista lhe faz uma pequena entrevista ao mesmo tempo em que injeta sedativo no soro, no meu caso nem sei quando foi que dormi. 

Já durmo facilmente sem essas drogas. Nem percebi quando me aplicaram a anestesia na coluna e somente acordei quando já tinham terminado o serviço. Um cateter ficou dentro de mim, uma espécie de mangueira da largura do canal da urina fazia uma ponte entre o rim e a bexiga, é por ali que sairiam os resíduos “pedrais”. Voltei pro quarto ainda sem sentir direito as pernas por causa da anestesia sem calças e com uma sonda na ponta do pênis. Seminu durante um dia e uma noite inteiros. 

Agora imagine, com uma sonda pendurada no bilau e um soro ligado no braço, ninguém te visita, mas entra e sai gente da enfermaria toda hora. Por isso disse que é preciso deixar a vergonha em casa. Como foram quatro cirurgias, nas últimas você perde a vergonha e nem se importa com nada. Nem enrubesce quando a enfermeira vem tirar a sonda no dia seguinte. Fica de boa. Só não da pra ficar tranquilo na hora de urinar, hum, vai arder lá... é isso mesmo, lá onde você pensou. Ah, a flexível é feita através da uretra, o aparelho é introduzido até no rim onde a pedra é bombardeada com laser durante uns quarenta minutos.
 

Não pense que minha experiência com as pedras começaram nesse período, muito pelo contrário, tenho convivido com cólicas renais e pedras, que eu me lembre, desde minha adolescência. Quando estamos sofrendo dores fortes não precisamos ficar desesperados, nervosos, nem muito menos maltratar as pessoas. Procuro manter a calma e a tranquilidade. 

Deve ser por isso que numa ocasião quando fui a um posto de saúde, visto que já não aguentava mais de tanta dor e a atendente não me deu a mínima, deve ter pensado que eu estava mentindo, pois conversei normalmente com ela. Ela disse que a médica plantonista, uma pediatra, diga-se de passagem, estava para o almoço, isso por volta das cinco da tarde e que eu teria de esperar. 

Olhei para a rua e avistei uma farmácia e me dirigi para lá onde fui bem atendido e tomei uma injeção de buscopan na veia. Tive várias cólicas e urinei um incontável número de pedras nesse longo período. Já te conto a que talvez tenha sido a pior delas. Antes falta dizer que fiz muitos exames de sangue e urina, raios-X? Perdi a conta. Ultra-sonografia um monte, cintilografia apenas uma, é um exame feito com energia nuclear, é mole? 

Pra mim o pior de todos é a urografia, uma espécie de radiografia em que você precisa tomar um contraste, além de um laxante que te faz passar a noite no banheiro, ficar sem comer e ter sua barriga espremida por uma tela pelo menos durante uma hora. Numa dessas sessões, minha pressão abaixou tanto que o próprio radiologista desesperou. Nessa mesma ocasião fiquei das sete até às onze da manhã pra completar o exame.
 

Bom, era o ano de 1981, meu pai e eu tínhamos viajado pra casa de uma tia minha em Contagem na grande BH, certa noite dormíamos em um colchão jogado na sala de estar, quando lá pelas três da madrugada comecei a rolar pra lá e pra cá com dores nos rins. A princípio fui aguentando, mas a dor da cólica foi aumentando e aumentando numa força tal que como eu disse lá atrás nesse texto descontrolou todo meu organismo. 

Tive que correr para o banheiro, ao mesmo tempo em que evacuava, vomitava, uh! Pra que lembrar isso. Como minha tia era muito sistemática, mesmo com aquela terrível dor, ainda fui dar uma lavada no banheiro com medo dela brigar comigo. Voltei para a cama, quando meu pai percebeu. Disse a ele que estava com fortes cólicas renais e logo ele e meu tio saíram comigo, por volta das quatro da manhã pra procurar uma clínica ou hospital de plantão. Não tínhamos carro, então fomos para o ponto de ônibus esperar o primeiro que passasse. 

Eu sentava na calçada, levantava, sentava de novo, péssimo. Pegamos o coletivo, ainda bem que não estava muito cheio e paramos próximo a uma clínica. Pra você ver o quanto isso é terrível, quando me atenderam e a enfermeira foi fazer a injeção, a dor já tinha trespassado. Fiquei o resto do dia com medo da dor voltar, sem contar aquela sensação estranha que fica depois dessas famigeradas. Uns meses depois já em casa urinei a pedra.
 

Já tomou chá de quebra pedras, chapéu de couro, conta de lágrimas? Eu, aos montes e pra mim nunca adiantou nada.
Vou indo, se quiser me encontrar, sigo no caminho das pedras.








Um comentário:

  1. Eu tive que ir a um centro de urologia porque tinha pedras nos rins, mas eles me falaram que iam ir embora sozinhas e que não tinha que ter nenhuma preocupação no meu caso particular.

    ResponderExcluir