Sejam Bem Vindos

Espero que curtam e acompanhem meus posts. Conto com a participação de vocês com comentários, sugestões e até mesmo críticas, desde que construtivas.

O Cego de Jericó

Com certeza Bartimeu saiu de casa aquele dia para mais um dia de rotina. Vs. 46 – Sentado à beira do caminho (solitário) - Jesus era seguido de seus discípulos e grande multidão, ele poderia pensar: “será que ele me notará, fará alguma coisa por mim?”

O Vulto da Mulher da Foice

Diz a lenda que em uma pequena cidade do interior, um vulto de uma mulher vestida de negro e com uma foice em punho era vista em pontos diferentes do lugarejo altas horas da noite por muitas vezes.

Seus Olhos

Seus olhos me olham profundamente, Num brilho que reflete em minha alma, Lá no fundo eles me dizem o que seu coração espera,

É Verdade Amor

É verdade amor Não tem mais como esconder O que sinto por você. Relutei, não queria aceitar Pensava: Ela é minha amiga, não posso me apaixonar

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

UMA RELAÇÃO PORNOGRÁFICA II (A cópia das cópias)

Dia movimentado no centro de uma grande cidade. Gente andando pra todo lado, apressados ou não. Calçadas lotadas de pessoas em várias direções, homens e mulheres de todas as idades indo ou vindo de algum lugar com alguma missão. Seja ela trabalho, compras, visita, em vão. 

Isso não importa. Importa sim sabermos que enquanto seguem seu caminho cada uma dessas centenas de pessoas tem sua própria vida, sua própria história. 

Pobres, ricos, miseráveis, todos tem uma vida cheia de sonhos, pretensões, projetos, enfim. Alunos que estudam pra se formar, outros apenas por exigência dos pais ou do sistema, cada vez mais exigente quanto a diplomas e certificados para entrar no mercado de trabalho. Por outro lado mulheres grávidas que contam os dias, torcendo pra chegar no nono mês logo, pra essa criança nascer. 

Algumas dessas mulheres planejaram essa gravidez e estão felizes, outras não. Um acidente de percurso, um erro, sei lá. O certo é que ambas estão grávidas.
Não há tempo pra enumerar tantas pessoas e suas possíveis histórias cotidianas, escritas ao longo das horas e dias afinco.

No meio dessa turba caminha cabisbaixa e pensativa uma mulher, madura, experiente, uns quarenta, quarenta e cinco anos. Uma mulher sem nome, sem endereço (isso não importa). O único registro que se tem conhecimento dela é seu e-mail: mulhersemnome@semdocumento.com.br (que droga de e-mail é esse).

Havia saído do trabalho e caminhava com um rumo certo. Enquanto ela não chega em seu destino, podemos pelo menos imaginar como teria sido sua vida até então. Quando jovem se mudou pra capital pra poder estudar e formou-se em algum curso superior, talvez advocacia, secretariado ou administração. Pelos seus trajes, muito bem vestida, bem maquiada, os cabelos longos tinham passado por uma escova progressiva e estavam lindos, apesar de eu preferir os cacheados. [Que eu tenho com isso afinal, ela é apenas uma mulher numa história]. 

Carregava uma pasta, possivelmente continha documentos importantes. Talvez estivesse indo ao Fórum. Sei, pelo que me parece, ou pelo menos é o que minha mente me manda digitar, ela nunca havia se casado, se preocupou tanto com os estudos que não tinha tempo para os rapazes. Solteirona, morava sozinha e se dedicava ao trabalho e aos seus dois gatinhos siameses que cuidava com o maior carinho em casa. 

Gostava também de plantas e tinha um jardim em casa, onde morava, num bairro nobre da cidade. À noite costumava navegar na internet, passava por sites de relacionamento, talvez em busca de alguém pra conversar, combatendo assim a solidão. Na sala de bate papo apareciam quase sempre o Gatoneblue, a Marysolo, a Soleisolei, a Mimosa, parece até uma vaca. Até o Tição do Barro Fundo aparecia por lá. Algumas vezes apareceu o Desespero Sex em pessoa, virtual claro.

Enquanto isso ela continua sua jornada, as horas vão passando e a noite vem chegando, qual será o destino dela?

Em outro ponto da cidade caminhava um homem, que acabara de descer do coletivo e quase teve sua carteira afanada por um tal de Afanásio Já Sabe. Ele nem percebeu, devido estar concentrado no compromisso que tem daqui a pouco. Mas um policial que montava guarda por ali, percebeu a intenção do meliante e o prendeu em flagrante e descobriu que usava documentos falsos e inclusive o nome era suspeito. 

O coitado foi preso e depois de algemado foi colocado educadamente no camburão corintiano. Essa noite não seria preciso dormir na rua, debaixo do viaduto enrolado em jornais e papelão. Iria dormir num cimento frio do xilindró da 345ª DP.

Bom, voltemos ao nosso personagem. Um cara simples, de pouco estudo, sabe nada de computador e internet. Acostumado a trabalho pesado, mãos calejadas, “geralista” de estádio de futebol, não perde uma partida de seu time. Mas hoje seu destino não é o campo de futebol. Havia dias que este solteirão tinha marcado um compromisso importante que não perderia de maneira alguma. 

Bom, o cara de uns cinqüenta anos, cabelos grisalhos, cortado bem baixo, barba feita, vestira sua melhor roupa. Uma camiseta pólo azul escuro, mangas longas, calça jeans tipo Lee, índigo blue, tênis All Star que comprou numa liquidação, sorte que tinha seu número, 44.

Na carteira quase roubada estava o dinheirinho juntado com sacrifício para gastar sem economia nesse compromisso.

Ele, diferente dela, não tinha estudado além da 7ª série do 1º Grau. Teve algumas namoradas, mas nunca se casou. Suas namoradas sempre o trocavam por um cara mais rico, com carro ou moto. Ele andava sempre de ônibus e às vezes de bicicleta, um camelo velho que ele tinha. 

Decepcionado com os foras das poucas namoradas, desiludiu e não namora faz muitos anos, já até perdeu a conta.

Sabemos então que os dois tinham um compromisso importante essa noite, algo muito em comum. Caminhavam resolutos para o mesmo lugar.

Em instantes ela se aproxima do local, o ponto de chegada, ele também vindo de outra direção. Meio que empolgados e até distraídos do mundo se chocam, ele se levanta e da a mão para ela. Estavam em frente do cinema e ele a pergunta, também veio assistir o filme. Ela diz, sim.

Nossa câmera focaliza o filme em cartaz: UMA RELAÇÃO PORNOGRÁFICA II.

FIM

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A MENINA ATAREFADA


Esta é a história da menina atarefada. Ela, a menina, desde criancinha sempre vivia atarefada com alguma coisa. Sempre cheia de energia nunca foi de ficar parada, exceto quanto seus pensamentos, sua imaginação entrava em ação.
Morava em uma cidade do interior, histórica por sinal, de ruas tortuosas, morros e vielas.

Certo dia ela estava brincando de bonecas e achou que estava sem graça a brincadeira, sem ação, sem adrenalina. Olhou para o canto de seu quarto e próximo à janela estava aquele velho par de patins de rodinhas que sua mãe já a havia proibido de usar desde sua última investida com o tal. Nem te conto o que ela causou por não saber se controlar sobre aquelas rodinhas. 

Bom, o pior, é que naquele instante, olhando para os patins foi como se acendesse uma luz sobre sua cabecinha futuramente ruiva, depois te conto. Levantou-se, largou as bonecas e foi aos patins, já maquinando o que faria. Calçou os patins, pulou a janela e já foi caindo na calçada sem ter tempo de segurar em alguma coisa. Como a rua de sua casa é numa ladeira os patins dispararam numa velocidade incontrolável, ainda mais para ela que nunca se deu bem com eles. 

Esbarrou num vendedor de bolo de arroz que passava esparramando a guloseima pra todo lado. Um ciclista que inventara de pedalar sobre a calçada foi lançado de quatro no meio da rua. Esqueci de dizer que mais abaixo na mesma rua tinha um hospital e quando ela se aproximava um acidentado estava sendo retirado da ambulância e colocado na maca. O doente estava consciente e quando deitava-se na maca olhou e viu aquela menininha descendo como foguete em sua direção e foi o tempo do enfermeiro empurrar a maca e ela passar, meio que descontrolada passou pela rua e foi parar na ponte sobre o rio da cidade. 

Não fosse a alça do suspensório da jardineira que ela usava, teria despencado lá de cima nas “límpidas” águas daquele rio. O resto da dessa história, nem te conto. Não há tempo para isso, visto que me lembrei de quando ela, a menina atarefada estava assistindo televisão e viu uma mulher de cabelo vermelho em um desenho, ou será que era o Pica-pau? Bom, não importa. O que importa é que ela a partir de então resolveu que queria mudar a cor de seus cacheados cabelos. Não sabia como faze-lo e passava seus dias pensando nisso. 

Um dia quando todo mundo tinha saído, ela reparou no vidro de groselha no armário da cozinha, vermelho, vermelho. Você já sabe o que ela fez, pelo menos imagina? Besuntou seus cabelos de groselha e nada de ficar vermelho. O que ela conseguiu foi ser perseguida por todos os mosquitos da região. Outra vez experimentou extrato de tomate e os mosquitos voltaram. Um dia pegou um vidro de xadrez vermelho que era usado pela mãe pra passar no piso da casa. Colocou os óculos escuros de sua tia e começou a passar o produto no cabelo com a escova de barbear de seu pai. Ai, ai, ai, quando a mãe dela descobriu essa arte, hum. 

Foi preciso lavar os cabelos muitas vezes com xampu e condicionador. E seus cabelos continuavam castanhos.
Bom, o tempo passou e a menina ficou cada vez mais atarefada. Atualmente ela já de cabelos vermelhos, pois descobriu que bastava procurar uma boa cabeleireira pra fazer a transformação. Quando se olhou no espelho e viu suas mechas abriu um grande e lindo sorriso. Era como se dissesse: “Yes!”
Seu espírito era mesmo de ruiva.

Agora, crescidinha ela tinha tarefas a executar em casa. Todos os dias era aquela história de bater a poeira dos móveis, arrumar as camas, varrer cômodo por cômodo, recolher o lixo, passar pano e muitas vezes era necessário encerar. Sem contar lavar os quatro banheiros, lavar as vasilhas do jantar e ainda preparar o almoço. Duas vezes por semana tinha que lavar e passar as roupas da casa.

A menina atarefada andava meio cansada dessa rotina e então um dia conversando com uma amiga descobriu que existia um tal de computador e uma tal de internet. Ainda mais, sua amiga lhe disse que na internet ela encontrava de tudo. Enquanto sua amiga falava sua imaginação, fértil que era começou a pensar na possibilidade de encontrar um meio de fazer um clone seu pra fazer suas obrigações diárias enquanto ela ficava a toa de pernas pro ar. Quando tudo estava arrumadinho, sua amiga tasca-lhe um beliscão e diz: “Acorda menina. Me deixando aqui falando sozinha enquanto você pela ‘quinquionésima’ vez viaja em suas histórias”.

Bom, apesar de sua amiga ter saído chateada, ela nem se importou, correu até uma loja de informática e comprou um computador e encomendou a instalação de internet, banda larga claro, pois ela era muito espaçosa, ihhhhh!
Bom, a intenção era de descobrir um meio de cuidar de suas tarefas caseiras sem ter que mover uma palha.

Assim que tudo estava instalado em sua casa, sua vida virtual começou. A questão é que logo descobriu um tal de msn e foi adicionando contatos e mais contatos que quase não tinha tempo pra mais nada a não ser conversar no msn. Ela gosta tanto de vermelho que ao invés de uma foto sua no perfil do messenger, colocou uma foto do pôr-do-sol, bem vermelho.

Um dia, em suas pesquisas, apareceu a foto de um homem na lua e então ela começou a imaginar-se andando sobre nosso satélite natural. Onde ela na verdade passava a maior parte de seu tempo, no mundo da lua. Além de encontrar o astronauta americano e perguntar a ele porque a bandeira dos Estados Unidos e não a do Brasil ele estava fincando em solo lunar. Encontrou também São Jorge e perguntou pra ele como ela poderia se livrar de suas tarefas diárias, e quando ele ia responder, ela ouviu o sonsinho do msn chamando. 

Era um contato seu, um tal de menino momentaneamente parado, é que o cara estava desempregado. Em sua conversa com ele, digitava uma frase, corria dava uma varridinha no quarto, digitava outra frase até que veio a idéia de arrumar um robô pra fazer seu serviço. Ela mesmo se lembrou do desenho dos Jetsons, onde eles tinham uma robô doméstica que cuidava das tarefas da casa e ainda não recebia salários pra isso. Surgiu então a idéia de seqüestrar Rosie, a robô do Jetsons, mas não seria fácil, pois o cão Astor estava sempre atento vigiando a casa.

Era hora de colocar a cabeça em ação pra bolar um plano que fosse perfeito. O grande problema é que ela vivia num mundo quase real e a robô era um mero desenho animado. Além do mais suas tarefas não eram virtuais e estavam lá pra serem executadas todos os dias.

Ficou imaginando a poeira, o lixo e toda sujeira da casa se acumulando e então resolveu que o seqüestro teria que acontecer o mais rápido possível.
Como essas coisas não podem ser feitas sozinha, pois tem sempre que ter um cúmplice, então chamou o menino momentaneamente parado pra lhe ajudar.

Sabia ela que a melhor maneira de bolar um plano era dormindo. Lembrou-se que sempre quando fazia suas maiores estripulias havia sonhado com alguma coisa na noite anterior. Uma vez fez até uma viagem para a Amazônia e só não foi executada por uma tribo indígena porque sua mãe a acordou pra ir pra escola. Ufa! Que alivio. Como já era noite, foi dormir. A ansiedade era tanta que nem desligou o pc, não escovou os dentes, nem mesmo deu comida pro papagaio (dormiu com fome o coitadinho). 

Não conseguia pegar no sono, pois ficava pensando na Rosie limpando sua casa todos os dias e sorria sozinha iluminada pela luz do abajur cor de rosa em sua cabeceira. Bem que ela queria um vermelho, mas sua mãe não gostou nem um pouquinho da idéia. Será porque, ah, deixa pra lá.
Dormiu, e dessa vez a menina atarefada nem parecia ela mesma. Estava quietinha na cama, nem mesmo as muriçocas a atormentava. Se fosse numa noite normal, teria rolado, remexido, batido nos pernilongos.

Mas aquela noite era especial. Enfim, sonhou.
Ela e seu comparsa estavam vestidos de palhaços com cabeleiras vermelhas, macacões azuis e voavam dentro de uma canoa, foram parar no espaço e viram muitas e muitas estrelas passarem, sobrevoaram cidades, cruzaram com banheiras, cadeiras, panelas, vassouras e tanquinhos voadores, coisa mais estranha. Tinha até um papagaio que mais parecia uma arara vermelha pedindo comida o tempo todo. O som da canoa voadora deles era um misto de ronco com o zoado de muriçocas. Tinha até um sol vermelho no cenário que se montava no decorrer do sonho. Barulho de msn, e sons variados, normais de computadores tilintavam pelos ares.
 
Em determinado momento eles chegaram numa cidade onde as casas mais pareciam aqueles porta bolos de confeitaria, redondas com uma tampa transparente. Quando viram estavam próximos da casa dos Jetsons e Rosie estava em sua cama dormindo. Uai, robôs dormem. Bom, nessa história aqui sim. Estacionaram a canoa foguete sobre o telhado de uma casa ao lado e amarraram a boca do papagaio com fita adesiva, vermelha, pois o famigerado não cessava de pedir comida. “Curupaco, loro, quero comida. Curupaco-papaco, quero comida, loro.” Era melhor que ele falasse “quero comida, ruiva”.
 
Cada um tinha um ventilador de teto preso em suas roupas ligado a um gancho, como se fossem chapéus.
Ela, levava em suas mãos um pacote de sorvete de cereja pra alimentar Astor que já estava atendo quase latindo. No momento que eles adentraram a área da casa ele abriu a boca pra latir e ela enfiou todo aquele sorvete goela abaixo do cãozinho que se calou imediatamente.
 
Já no quarto da robô, eles pegaram um saco de linhagem, sempre vermelho pra coloca-la. E o fizeram com tanta facilidade, que só em sonho. Na verdade, a menina atarefada disse pra Rosie se levantar e entrar no saco e foi isso. A menina estava irradiante com tudo isso. Estava conseguindo executar seu plano de forma irrepreensível. Podia-se notar uma alegria enorme em seu semblante. Em seus pensamentos ela dizia: “Oba, não vou mais ter que fazer todas aquelas tarefas caseiras, agora tenho uma robô domestica, viva, viva. Sou mesmo uma ruivinha de verdade.”
 
Agora, diferente da facilidade pra colocar Rosie no saco, foi a dificuldade para os dois carregarem-na até a canoa. Uma coisa é certa, não faziam nenhum ruído ou então a família Jetsons tinha o sono pesado.

Tudo bem, apesar de ter que carregar a pesada robô, num instante estavam sobre a canoa, ela, a menina atarefada, contentíssima. Ela que muitas vezes questionava essa questão de felicidade. Agora sim, se sentia feliz. Na verdade nunca esteve tão feliz.
Naquele instante soava estridentemente uma sirene, o som era altíssimo...
Foi quando ela acordou. Era seu celular que tocava. Chamada do SAMU, avisando que seu plantão havia sido alterado.


Essa é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a vida real não terá sido mera coincidência.

FIM